segunda-feira, agosto 30, 2004

sábado, agosto 28, 2004

luz


agora que o gato dorme aqui na cama ao lado
e o Lennon continua de olhos fechados no poster
Sintra, o sol e tu enchem-me a alma
de azul, de verde e de luz
e espero adormecer já a seguir
contigo e o meu desejo

o meu amor é um anjo
que eu desejo
e que em sonhos eu beijo
na boca

sexta-feira, agosto 27, 2004

Faz hoje um ano


A informática terá razões que a razão desconhece,
porque foi sem tu quereres
que eu fiquei a saber que afinal vocês se amavam.
Faz hoje um ano.

A tontura e a náusea duraram apenas o tempo
em que ainda bate o coração de um guilhotinado.

Foi rápido, obrigada
eficaz, parabéns!
e inesquecível.

“You came along and you cut me loose”, Coldplay

sexta-feira, agosto 20, 2004

"As amigas são umas velhacas"

Se há coisa que me deixa chateada é ser abandonada pelas minhas queridas amigas quando de repente encontram novos namorados.
Nem mais telefonemas nocturnos, nem mais desafios para cinema ou jazz, ou jantares com vinho tinto... Nem sequer mais uma smszita a dizer "Estou viva e bem alimentada! ;) E tu, já desencalhaste?"...

Fico chateada, mas também me sobra mais espaço para aquilo que eu mais gosto de fazer na vida, e que é fazer o menos possível e não ter compromissos que me levem do ninho onde vivo encantada com os meus gatos lindos, o meu silêncio, os meus livros, o meu quintal...

Acontece que duas das minhas amigas mais chegadas resolveram reembarcar em aventuras amorosas (e que Deus lhes dê bom senso e paciência para se livrarem da teia em que se meteram, que eu conheço os dois jeitosos!...).

E vem-me à memória uma frase simplesmente inesquecível, que me foi dita por uma querida professora de música, senhora dos seus oitenta anos bem vividos, quando eu me queixava de uma inconfidência grave cometida por uma das minhas amigas daquele tempo.
Disse-me friamente a professora:

"As amigas são umas velhacas. Conte com a sua mãe, conte comigo, mas não conte com as amigas. As amigas são umas velhacas."

Agora que a minha professora de música e a minha mãe já seguiram o caminho do céu (tenho a certeza!), conto apenas com os meus gatos, o meu silêncio, os meus livros, e o meu quintal.
E sinto-me bem.
:)

segunda-feira, agosto 02, 2004

António, o Lobo

V: Ainda sonha com a guerra?
ALA: Às vezes tenho um pesadelo tremendo. Sonho que me estão a chamar para voltar para África. Tento explicar que já fui, argumentam que tenho que ir. E o sonho acaba aqui. Nunca sonhei com tiros ou com morteiradas. No meio daquilo tudo havia muito humor. Havia um homem, o Bichezas, que cuidava do morteiro que estava ao pé da messe. Tínhamos mais medo dele do que do MPLA porque o Bichezas disparava com o morteiro na vertical. Aquilo subia... e toda a gente fugia. Apesar de tudo, penso que guardávamos uma parte sã que nos permitia continuar a funcionar. Os que não conseguiam são aqueles que, agora, aparecem nas consultas. Ao mesmo tempo, havia coisas extraordinárias. Quando o Benfica jogava, púnhamos os altifalantes virados para a mata e, assim, não havia ataques.

V: Parava a guerra?
ALA: Parava a guerra. Até o MPLA era do Benfica. Era uma sensação ainda mais estranha porque não faz sentido estarmos zangados com pessoas que são do mesmo clube que nós. O Benfica foi, de facto, o melhor protector da guerra. E nada disto acontecia com os jogos do Porto e do Sporting, coisa que aborrecia o capitão e alguns alferes mais bem nascidos. Eu até percebo que se dispare contra um sócio do Porto, mas agora contra um do Benfica?

V: Não vou pôr isso na entrevista...
ALA: Pode pôr. Pode pôr. Faz algum sentido dar um tiro num sócio do Benfica?

Excerto da entrevista “António Lobo Antunes íntimo”, in Visão 560